Atração
Exposição celebra o legado do músico pelotense Giba Giba
Proposta que chega a Pelotas abre espaço para o reconhecimento da contribuição negra na história gaúcha dentro do Museu Júlio de Castilhos
Jô Folha - DP - Entre as peças expostas estão fotos de família, objetos de uso pessoal e figurinos de shows
Projeto de itinerância do Museu Júlio de Castilhos (MJC), instituição da Secretaria da Cultura (Sedac), traz a Pelotas a exposição Giba Giba - O guardião do Sopapo. A montagem, que promove um passeio pelo universo particular do homem, do músico e do militante da cultura negra gaúcha, pode ser apreciada na Sala Inah D'Ávila Costa, Casarão 2, sede da Secretaria Municipal de Cultura (Secult). Visitação até o dia 30 de maio, de segunda a sexta-feira, das 9h às 14h, com entrada gratuita.
Com curadoria da museóloga e diretora do MJC Doris Couto, a montagem ressalta ainda a história do tambor Sopapo, elemento simbólico da cultura pelotense, hoje tombado pelo Município, e afro-gaúcha. Giba Giba nasceu em Pelotas, 1940 e morreu em 2014, na capital Porto Alegre, cidade onde morou desde os seis anos.
O cantor, compositor, percussionista e ativista cultural foi o responsável pelo resgate do grande tambor na década de 1990, além de ter criado o Festival Cabobu. Entre as peças expostas estão fotos de família, objetos de uso pessoal, figurinos de shows, história e fotos do festival que reintroduziu o sopapo na cultura gaúcha, além do Sopapo musealizado pelo Museu Julio de Castilhos.
A própria Dóris fez a montagem da exposição em Pelotas, com o auxílio dos alunos Carolina Fogaça Tenotti, Isadora Costa Oliveira, Nadir Ferreira Taranti, Nicólly Ayres da Silva e Renan Marques Azevedo da Mata, do curso de Museologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). “A exposição do Giba trata, a partir da materialidade dessa figura emblemática, da musicalidade gaúcha, da ancestralidade, especialmente desse resgate do tambor de sopapo”, comenta a curadora.
Em Pelotas, em função do espaço a exposição está mais enxuta. A mostra está organizada em três momentos: o homem Giba Giba, o músico e o tambor e o Festival Cabobu. Inclusive foi a realização da terceira edição do festival, no último final de semana, que oportunizou a montagem em solo pelotense. “Não víamos um momento mais oportuno do que este para fazê-lo retornar à cidade com toda a força daquilo que ele produziu em prol deste tambor”, comenta a curadora.
Resgate de narrativas
A primeira edição de Giba Giba - O guardião do Sopapo ocorreu em 2021 no Museu Júlio de Castilhos. A iniciativa integra um proposta que trata a história do povo negro no Rio Grande do Sul de uma forma positiva. Dóris explica que em 2019, quando chegou ao MJC percebeu que as referências históricas sobre os negros no Estado eram trazidas apenas pelos instrumentos de tortura utilizados pelos senhores de escravos. Toda a contribuição - social, cultural e econômica - do povo negro havia sido negligênciada.
Atualmente o Museu, com 120 anos, conta, por exemplo, com contribuições como as do Clube União de Santa Cruz, que doou documentos e a primeira bandeira de Carnaval da entidade, também com o sopapo e uma bata da griô Sirley Amaro. “Isso ainda é uma busca, estamos em contato com a família e devemos receber mais peças, porque ela, além da representação negra gaúcha, de toda a religiosidade e ancestralidade, traz toda uma questão de ser uma mulher negra, então era muito importante para o Museu”, fala.
A diretora lembra que o processo se iniciou mesmo, a partir da notícia de que Pelotas estava tombando o tambor de sopapo. “O Museu começou a fazer um movimento para que tivesse seu próprio sopapo e nessa caminhada cruzamos com a Sandra Narciso, que foi produtora do Giba, cujo acervo dele estava sob a guarda dela”, explica Dóris. Sandra, da MS2 Produtora, inclusive atuou ao lado de Dóris na primeira montagem da exposição, em novembro de 2021.
“A gente brinca que o sopapo abriu caminho para uma musealização efetiva.” Dóris antecipa ainda que além de formar o acervo, posteriormente, esse legado terá uma curadoria negra. “Eu como museóloga não entendo que seja factível que brancos façam narrativas da história que os negros viveram. É preciso ter esse olhar da negritude.”
No ano passado foi dado o início à itinerância da exposição, com uma montagem da mostra em Bento Gonçalves. “A proposta é levar a outras cidades, uma vez que o Sopapo ganhou essa difusão a partir do Giba Giba e incorporou-se na musicalidade gaúcha em várias regiões do Estado”, diz.
A exposição ainda integra um programa do Museu que é o da formação de um acervo afro-gaúcho, com o objetivo de qualificar o acervo. Desta forma, segundo a diretora, o MJC se habilita a fazer narrativas sobre a participação dos africanos e afro-descendentes na história do Estado.
Serviço
O quê: exposição Giba Giba – O guardião do Sopapo
Visitação: de segunda a sexta-feira, das 9h às 14h, até 30 de maio
Onde: Sala Inah D'Ávila Costa, Casarão 2 da praça Coronel Pedro Osório, 2 – Secult
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